terça-feira, 17 de dezembro de 2024

As curvas do meu caminho


Houve um tempo em que eu me escondia. Não no sentido literal, mas dentro de roupas largas, de sorrisos contidos e de desculpas que sempre começavam com “não posso”. Eu acreditava que meu corpo, com suas curvas que não cabem em padrões, não era digno de ocupar certos espaços.

Era verão quando me chamaram para ir à praia. Olhei para o biquíni no fundo da gaveta e, junto com ele, senti o peso de todas as vezes em que ouvi comentários como “você tem um rosto tão bonito, pena que...” ou “essa roupa ficaria melhor em alguém mais magra”. Decidi não ir.

Mas naquela noite, algo em mim mudou. Deitada na cama, me perguntei: “Por que estou deixando o olhar dos outros roubar minha alegria?” A vergonha não era minha; ela me foi imposta. Fui condicionada a acreditar que o tamanho do meu corpo definia o tamanho do meu valor.

No dia seguinte, vesti aquele biquíni. Me olhei no espelho e, pela primeira vez, tentei enxergar meu corpo como ele realmente é: vivo, forte, cheio de histórias. As curvas que antes me envergonhavam agora pareciam traços únicos, um mapa da minha jornada.

Na praia, senti olhares. Alguns curiosos, outros críticos. Mas, no meio de tudo, percebi algo surpreendente: ninguém estava vivendo a minha vida além de mim. Ninguém sentia a brisa no rosto, a areia nos pés, ou a alegria de mergulhar no mar pela primeira vez em anos.

Ser uma mulher fora dos padrões é um ato de resistência. É caminhar com a cabeça erguida em um mundo que insiste em nos diminuir. É escolher roupas que amamos, não porque elas escondem, mas porque nos revelam. É ocupar espaços, tirar fotos, rir alto, dançar — viver.

Hoje, eu sei que meu corpo não precisa de permissão para existir. Ele já é inteiro, completo e belo, exatamente como é.